Perfil epidemiológico de agravos à saúde em policiais e bombeiros

Epidemiological profile of health problems in policemenand firefighters

Perfil epidemiologico de problemas de salud en policiales y bomberos

Gustavo Klauberg Pereira1

Polícia Militar de Santa Catarina

Ricelli Endrigo Ruppel da Rocha

Roberto Moares Cruz

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Resumo

Introdução: Militares são expostos a riscos ocupacionais no trabalho. Método: Estudo epidemiológico e descritivo de corte transversal, realizado com 4.392 policiais e bombeiros. Foram avaliadas a prevalência, incidência e associação de variáveis sócio-ocupacionais com os motivos de afastamento do trabalho, segundo Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde. Resultados: Os agravos mais prevalentes foram por lesões, envenenamentos e algumas outras consequências de causas externas (29,0%) e por doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (23,4%). Houve aumento de 28,1% de novos casos de transtornos mentais e comportamentais e de 23,4% de doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo. Variáveis sócio-ocupacionais têm relação com os motivos de afastamento do trabalho da amostra (p<0,05). Conclusão: Policiais e bombeiros do sexo masculino e que realizam atividade operacional apresentaram alta prevalência e incidência de afastamentos do trabalho.

Palavras-chave: saúde pública,saúde do trabalhador, risco ocupacional, doenças do trabalho

Abstract

Introduction:military personnel are exposed to occupational hazards at work. Method: Epidemiological and descriptive cross-sectional study conducted with 4,392 policemen and firefighters. The prevalence, incidence and association of socio-occupational variables with the reasons for leaving work, according to the International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems, were evaluated. Results: The most prevalent injuries were injuries, poisonings and some other consequences of external causes (29.0%);diseases of the musculoskeletal system and connective tissue (23.4%). There was an increase of 28.1% in new cases of mental and behavioral disorders and 23.4% in diseases of the musculoskeletal system and connective tissue. The socio-occupational variables had a relationship with the main reasons to leaving the work found in the sample (p <0.05). Conclusion: Military policemen and male military firefighter performing operational tasks presented high prevalence and incidence of sick-leave.

Keywords: public health, occupational health, occupational risks, occupational diseases

Resumen

Introducción: los militares están expuestos a riesgos laborales en el trabajo. Método: Estudio epidemiológico y descriptivo transversal realizado con 4.392 policiales y bomberos. Se evaluaron la prevalencia, la incidencia y la asociación de variables socio-profesionales con las razones para dejar el trabajo, de acuerdo con la Clasificación estadística internacional de enfermedades. Resultados: Los males más prevalentes fueron lesiones, envenenamientos y algunas otras consecuencias de causas externas (29.0%) y enfermedades del sistema musculoesquelético y tejido conectivo (23,4%). Hubo un aumento del 28,1% en los nuevos casos de trastornos mentales y del comportamiento y del 23,4% en las enfermedades del sistema musculoesquelético y el tejido conectivo. Las variables socio-ocupacionales tuvieron una relación con las razones principales para bajas por enfermedadde la muestra (p <0.05). Conclusión: Policiales y bomberos de sexo masculino que realizan tareas operativas presentaron alta prevalencia e incidencia de bajas por enfermedad.

Palabras clave: salud pública, salud laboral, riesgos laborales, enfermedades profesionales

Introdução

A Constituição Federal preconiza que a segurança pública é dever do Estado e responsabilidade de todos e, dentre os órgãos que a exercem, estão a Polícia Militar (PM) e o Corpo de BombeirosMilitares (CBM), que atuam em benefício social (Brasil, 1988). O exercício profissional desses trabalhadores é essencial para a manutenção da sociedade, assim, torna-se relevante socialmente compreender quaisquer doenças associadas a essa categoria profissional (Han, Park, Park, Hwang,& Kim, 2018).

Bombeiros e policiais militares têmambientes sociais e ocupacionais que favorecem a exposição frequente a riscos e a insalubridade, pois se envolvem com períodos repetidos e longos de trabalho intenso, alta tensão e violência no trabalho, exposição a perigos químicos, físicos, biológicos e psicológicos, aumentando a ocorrência dos mais diversos agravos à saúde (Wickramasinghe, Wijesinghe, Dharmaratne,&Agampodi, 2016; Kim, Ahn, Kim, Yoon,&Roh, 2016). Além disso, têm sido observados que os níveis de estresse dos militares são superiores quando comparados a outras classes profissionais, não somente pelos riscos envolvidos na profissão e a excessiva carga de trabalho, mas também pela qualidade das interações produzidas nas organizações militares, pautada em preceitos rígidos de hierarquia e disciplina (Minayo, Assis,& Oliveira, 2011; Magajewski, 2010).

Um estudo realizado sobre a saúde mental e física em 26 ocupações profissionais inglesas mostrou que a profissão de militar ficou ranqueada entre o 9º e 11º, no geral, e em 1º lugar das ocupações com problemas de saúde (Velden et al., 2013).Em outro estudo sobre níveis de qualidade de vida e estresse ocupacional, realizado com 1.837 profissionais da segurança pública do Estado de Mato Grosso (Brasil), foi verificado que 52% apresentavam estresse, com associação significativa entre altos níveis de estresse e má qualidade de vida, bem como a necessidade de estratégias institucionais para melhorar a qualidade de vida na Segurança Pública do Estado (Lipp, Costa,& Nunes, 2017). Outra investigação, com 200 policiais militares da Região Metropolitana de Florianópolis, mostrou que a prevalência de transtornos mentais e comportamentais foi de 24% (Lima, Assunção,& Barreto, 2015).

Nesse contexto, a ocupação de militar tem sido alvo de estudos epidemiológicos, devido ao aumento dos afastamentos para tratamento de saúde por doenças físicas e mentais e as implicações na saúde pública, nas organizações de segurança e na sociedade em geral (Baasch, Trevisan, & Cruz, 2017; Castro, Avila, & Cruz, 2015; Han et al., 2018; Lima, Blank, & Menegon, 2015). Apesar disso, a maioria das pesquisas realizadas com militares não têm avaliado possíveis preditoressócio-ocupacionais dessas doenças. O conhecimento destes preditores possibilita o acompanhamento e a intervenção nos fatores que prejudicam a saúde dos militares, e serve como parâmetro para o estabelecimento de medidas preventivas que possibilitem mudanças comportamentais, as quais apresentam impacto direto na saúde e na segurança destes profissionais.

Com a finalidade de buscar mais informações sobre agravos à saúde em policiais e bombeiros militares para subsidiar políticas de promoção e prevenção da saúde ocupacional, bem como possibilitar uma atuação profissional mais eficaz, eficiente dos militares à sociedade, o objetivo deste estudo foi avaliar o perfil epidemiológico e sócio-ocupacional de policiais militares e bombeiros militares de Santa Catarina afastados do trabalho para tratamento de saúde, no período de 2014 a 2016.

Método

Este estudo epidemiológico descritivo e de corte transversal analisou a prevalência de afastamentos do trabalho entre os períodos de 2014 a 2016. A população estudada foi de 4.392 militares do Estado de Santa Catarina, Brasil, divididos em 3.787 policiais militares e 604 bombeiros militares que se afastaram do trabalho por adoecimento. O militar é avaliado por uma junta médica, com função pericial, que registra as informações do militar afastado em um banco de dados da Junta Médica da Polícia Militar de Santa Catarina.

A fonte de dados da Junta Médica da Polícia Militar de Santa Catarina, cujo acesso ocorreu após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina, protocolo número 1.513.146, continha informações sociodemográficas, ocupacionais e de diagnósticos de afastamentos de acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-10). A CID-10 é composta por 22 capítulos, os quais apresentam códigos referentes à quantidade de sinais e sintomas, aspectos de anormalidade, queixas, circunstâncias sociais e causas externas para ferimentos ou doenças (Iacoponi, 1999).

Para compor o banco, uma análise exploratória inicial mostrou que os códigos diagnósticos CID-10 mais frequentes na amostra foram as doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (M00-M99), os transtornos mentais e comportamentais (F00-F99), as lesões, envenenamentos e algumas outras consequências de causas externas (S00-T98) e fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os serviços de saúde (Z00-Z99), totalizando 78% dos casos. As outras categorias, A00-B99: algumas doenças infecciosas e parasitárias; C00-D48: neoplasmas (tumores); D50-D89: doenças do sangue e dos órgãos hematopoiéticos e alguns transtornos imunitários; E00-E90: doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas; G00-G99: doenças do sistema nervoso; H00-H59: doenças do olho e anexos; H60-H95: doenças do ouvido e da apófise mastoide; I00-I99: doenças do aparelho circulatório; J00-J99: doenças do aparelho respiratório; K00-K93: doenças do aparelho digestivo; L00-L99: doenças da pele e do tecido subcutâneo; N00-N99: doenças do aparelho geniturinário; O00-O99: gravidez, parto e puerpério; P00-P96: algumas afecções originadas no período perinatal; Q00-Q99: malformações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas; R00-R99: sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de laboratório, não classificados em outra parte; V01-Y98: causas externas de morbidade e de mortalidade e; U00-U99: códigos para propósitos especiais, corresponderam a 22% dos casos. Dessa forma, as categorias foram divididas em: M00-M99; F00-F99; S00-T98; Z00-Z99 e “Outros” (agrupamento dos demais códigos diagnosticados).

As variáveis dependentes da presente pesquisa são a quantidade de dias afastados do trabalho e os diagnósticos por CID-10 mais frequentes. As variáveis independentes incluíram as características sócio-ocupacionais: sexo, região militar de atuação, atividade operacional ou administrativa, instituição (Polícia Militar de Santa Catarina ou Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina) e carreira (praças: soldados, cabos, sargentos, sub-tenentes; e oficiais: tenentes, capitães, majores, tenentes-coronéis e coronéis).

A prevalência foi calculada dividindo a quantidade de sujeitos acometidos por uma doença pelo total de indivíduos da população (N=14.175). O cálculo da taxa de incidência foi realizado como a razão do número de novos casos afastados por uma doença, e o total de sujeitos em risco/ano. A incidência cumulativa (Δ%) foi calculada pela razão da somatória do número de novos casos afastados por uma doença a cada ano, e o total de afastamentos entre 2014 e 2016.

Inicialmente, foi realizada a análise descritiva dos dados e apresentada como frequências absolutas e relativas, média e desvio-padrão. Para determinar a estatística paramétrica ou não paramétrica, foi verificada a normalidade dos dados através do teste de Kolmogorov-Smirnov e o teste de Levene para analisar a homogeneidade entre as categorias. Devido à distribuição não normal dos dados de afastamento para tratamento de saúde das categorias sexo, carreira, região militar, atividade e instituição, foi utilizado o teste U de Mann-Whitney para as comparações entre 2 categorias. Para comparar a média de dias de afastamento de acordo com os códigos diagnósticos CID-10 mais frequentes, foi utilizado o teste t de Students para amostras independentes, pois a análise mostrou distribuição normal.Para verificar a associação das variáveis dependentes (F00-F99, M00-M99, S00-T98, Z00-Z98 e Outros) com as variáveis independentes (sócio-ocupacionais), foram testadas as associações por meio do Teste do Qui-Quadrado de Pearson (χ2). As variáveis testadas em que a associação apresentou nível de significância de p ≤ 0,20 foram selecionadas para entrada na modelagem de regressão logística multivariada e hierárquica. Assim, obtiveram-se as Razões de Chance (OR) com seus respectivos intervalos de confiança (IC95%). A partir dos resultados da primeira análise, foram incluídas incialmente, em ordem crescente, no modelo, todas as variáveis com menor valor de p obtido no Teste do Qui-Quadrado de Pearson (χ2). O nível de significância adotado para todas as análises foi de p<0,05. Todas as análises foram realizadas no StatisticalPackage for the Social Sciences (SPSS) versão 25.0.

Resultados

No período de 2014-2016, estiveram em licença para tratamento de saúde (LTS) 4.392 policiais militares e bombeiros militares de Santa Catarina. A estimativa dos custos com pagamento dos salários dos militares afastados nesse período foi de R$29.713.716,07. O ano de 2014 despendeu R$3.653.011,64, com 582 afastamentos; 2015, R$ 13.570.955,27 (n=1.995 afastamentos); e 2016, R$12.489.749,16 (n=1.814 afastamentos).

No perfil dos militares avaliados, predominou o sexo masculino (92%), pertencente à carreira das Praças (97,3%), exercendo atividade operacional (79%). A região metropolitana da capital do estado (1ªRPM - 44,2% e 11ªRPM - 8,5%) concentrou o afastamento de policiais militares, e os bombeiros afastados atuam na região litorânea (Tabela 1).

A média de afastamentos dos militares (Tabela 1) mostrou que os policiais militares se afastam por mais tempo,em comparaçãoaos bombeiros militares (p<0,001) − em média, 6,9 dias a mais. Já os militares que atuam na atividade operacional permanecem mais tempo afastados do trabalho quando comparados aos que atuam na atividade administrativa (p<0,05), em média, 3 dias a mais.

Tabela 1

Comparação entre as médias de dias afastados por licença para tratamento de saúde, segundo as variáveis sócio-ocupacionais de policiais militares e bombeiros militares de Santa Catarina

Variáveis

Média

DP

P

Instituição

Polícia Militar

37,1

38,7

0,000**

Bombeiros Militares

30,2

28,7

Sexo

Masculino

36,4

37,3

0,17

Feminino

33,4

40,2

Atividade

Operacional

36,8

35,6

0,03*

Administrativa

33,8

44,2

Carreira

Oficiais

36,3

37,8

0,10

Praças

31,9

28,1

Região

Litorânea

34,2

38,5

0,000**

Serrana

44,7

32,2

Teste U de Mann-Whitney: p<0,001**; p<0,05*

Além disso, nos policiais militares, a região da 1ªRPM apresentou a menor média de dias de afastamento por LTS comparadaàs demais regiões (p<0,001). Também, a região da 12ªRPM mostrou menor média de afastamento por LTS em comparaçãoàs regiões da 2ª RPM, 3ª RPM, 5ª RPM, 6ª RPM, 7ª RPM e 10ª RPM (p<0,001). Com relação aos bombeiros militares, a 1ª RBM teve a menor média de dias de afastamento por LTS comparadaà 2ª RBM (p<0,0001). Não houve diferença estatisticamente significativa no tempo de afastamento entre as variáveis sexo e carreira dos militares (p>0,05) (Tabela 1).

Na Tabela 2, apresenta-se a distribuição dos afastamentos por ano e de acordo com os diagnósticos mais frequentes recebidos pelos militares em LTS, entre 2014-2016. Nesse período, a taxa de crescimento dos afastamentos do trabalho por LTS, de 2014 a 2016, foi de 312%.

Tabela 2

Distribuição da prevalência dos afastamentos de policiais e bombeiros militares de Santa Catarina (n=4.392), por seus respectivos diagnósticos CID-10, no período de 2014-2016

Códigos

CID-10

2014

2015

2016

Total

N

%

N

%

N

%

N

%

F00-F99

116

20,0

256

12,8

259

14,3

631

14,4

M00-M99

119

20,4

544

27,2

366

20,2

1029

23,4

S00-T98

111

19,6

259

26,5

629

34,7

1269

29,0

Z00-Z99

154

26,0

155

7,7

173

9,5

482

11,0

Outros

82

14,0

511

25,8

287

21,3

980

22,2

Total

582

100

1995

100

1814

100

4392

100

Os agravos à saúde mais prevalentes entre policiais militares e bombeiros militares de Santa Catarina foram por lesões, envenenamentos e algumas outras consequências de causas externas (S00-T98; 29,0%), doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (M00-M99; 23,0%) e outros (22,0%), correspondendo a 2/3 de todos os afastamentos dos militares de SC (Tabela 2). Os agravos à saúde menos prevalentes nos militares foram os transtornos mentais e comportamentais (F00-F99; 14,4%) e os fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os serviços de saúde (Z00-Z99; 11,0%) (Tabela 2).

A Tabela 3 apresenta a taxa de incidência e a incidência cumulativa dos principais agravos à saúde dos policiais militares e bombeiros militares catarinenses no período analisado. A incidência cumulativa mostrou que, ao longo de 3 anos, ocorreram 28,1% de novos casos de transtornos mentais e comportamentais; 23,4% de novos casos de doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo; e 23,2% de outros agravos à saúde.

Tabela 3

Taxa de incidência (por 1.000 militares/ano) e de incidência cumulativa para os principais agravos à saúde dos policiais militares e bombeiros militares catarinenses, no período de 2014-2016

CÓDIGOS CID-10

2014 (n=582)

2015 (n=1.995)

2016 (n=1.814)

Δ%

(N=4.392)**

Casos (n)

Incidência*

Casos (n)

Incidência*

Casos (n)

Incidência*

F00-F99

110

25

514

117

614

139

28,1

M00-M99

119

27

544

123

366

83

23,4

S00-T98

116

26

256

58

259

59

14,3

Z00-Z99

154

35

155

35

173

39

11,0

Outros

83

18

526

119

402

91

23,2

*Incidência: Taxa de incidência (por 1.000 militares/ano); ** Incidência cumulativa.

A taxa de incidência de afastamento por doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (M00-M99), com 123 casos a cada 1.000 militares, e outros CID com 119 casos a cada 1.000 militares, foi maior em 2015,em comparaçãoa 2014 e 2016 (Tabela 3). Em contrapartida, em 2016,comparado a 2014 e 2015 (Tabela 3), foi maior a taxa de incidência de afastamentos por transtornos mentais e comportamentais (F00-F99), com 139 casos a cada 1.000 militares; as lesões, envenenamentos e algumas outras consequências de causas externas (S00-T98), com 59 casos a cada 1.000 militares; e os fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os serviços de saúde (Z00-Z99), com 39 casos a cada 1.000 militares.

A Tabela 4 e 5 apresentam a análise de regressão logística multivariada bruta e ajustada de acordo com as categorias mais frequentes de afastamentos dos militares.

Tabela 4

Variáveis sócio-ocupacionais associadas às categorias mais frequentes de afastamentos dos militaresws

CÓDIGOS CID-10

F00-F99

M00-M99

S00-T99

Z00-Z99

Outros

Variáveis

OR bruto

(IC95%)

Valor p

OR bzruto (IC95%)

Valor p

OR bruto (IC95%)

Valor p

OR bruto (IC95%)

Valor p

OR bruto (IC95%)

Valor p

Sexo

Masculino

0,74

(0,56-0,98)

0,042

1,10

(0,84-1,44)

0,457

1,79

(1,34-2,38)

0,000

1,10

(0,76-1,58)

0,597

0,65

(0,51-0,83)

0,001

Feminino

1,00

1,00

1,00

1,00

1,00

Atividade

Operacional

0,86

(0,70-1,07)

0,187

0,93

(0,77-1,11)

0,420

2,28

(1,88-2,77)

0,000

1,04

(0,81-1,33)

0,732

0,53

(0,45-0,63)

0,000

Administrativa

1,00

1,00

1,00

1,00

1,00

Instituição

Polícia Militar

1,37

(1,04-1,79)

0,022

0,57

(0,47-0,69)

0,000

1,16

(0,95-1,41)

0,127

1,36

(1,01-1,84)

0,046

1,08

(0,87-1,33)

0,475

Bombeiros Militares

1,00

1,00

1,00

1,00

1,00

Carreira

Praças

0,37

(0,24-0,56)

0,000

2,49

(1,40-4,41)

0,002

0,91

(0,57-1,44)

0,695

0,77

(0,44-1,36)

0,775

1,50

(0,95-2,38)

0,081

Oficiais

1,00

1,00

1,00

1,00

1,00

Região

Litorânea

0,82

(0,66-1,01)

0,067

1,22

(1,01-1,47)

0,036

0,80

(0,68-0,95)

0,010

0,87

(0,68-1,10)

0,247

1,37

(1,12-1,68)

0,002

Serrana

1,00

1,00

1,00

1,00

1,00

Tabela 5

Regressão logística multivariada final para fatores associados às categorias mais frequentes de afastamento dos militares

Variáveis

CÓDIGOS CID-10

F00-F99

M00-M99

S00-T99

Z00-Z99

Outros

OR ajustado (IC95%)

Valor p

OR ajustado (IC95%)

Valor p

OR ajustado (IC95%)

Valor p

OR ajustado (IC95%)

Valor p

OR ajustado (IC95%)

Valor p

Sexo

Masculino

0,73

(0,55-0,97)

0,030

-

-

1,79

(1,34-2,38)

0,000

-

-

0,66

(0,51-0,83)

0,001

Feminino

1,00

-

1,00

-

1,00

Atividade

Operacional

-

-

-

-

2,25

(1,86-2,72)

0,000

-

-

0,54

(0,46-0,64)

0,000

Administrativa

-

-

1,00

-

1,00

Instituição

Polícia Militar

1,40

(1,07-1,83)

0,014

0,58

(0,48-0,70)

0,000

-

-

1,36

(1,01-1,83)

0,046

-

-

Bombeiros Militares

1,00

1,00

-

1,00

-

Carreira

Praças

0,36

(0,24-0,54)

0,000

2,43

(1,38-4,28)

0,002

-

-

-

-

-

-

Oficiais

1,00

1,00

-

-

-

Região

Litorânea

-

-

1,23

(1,02-1,48)

0,027

0,80

(0,68-0,94)

0,008

-

-

1,36

(1,1-1,66)

0,002

Serrana

-

1,00

1,00

-

1,00

Ajustadas as variáveis que apresentaram p<0,20 na análise bivariada com F00-F99 (Sexo, Instituição, Carreira), M00-M99 (Instituição, Carreira, Região), S00-T99 (Sexo, Atividade, Região), Z00-Z99 (Instituição), Outros (Sexo, Atividade, Região).

De acordo com a análise logística multivariada ajustada por categoria para todo o período (Tabela 5), militares do sexo masculino apresentam 27% menos chance de se afastar por transtornos mentais e comportamentais (F00-F99) em comparaçãoa militares do sexo feminino (OR 0,73 IC95%: 0,55-0,97). Os policiais militares apresentam razão de chance 40% maior (OR 1,40 IC95%: 1,07-1,83) do que os bombeiros militares de se afastarem por transtornos mentais e comportamentais (F00-F99), enquanto a carreira de praças tem64% menos chance de se afastar por transtornos mentais e comportamentais (OR 0,36 IC95%: 0,24-0,54).

Com relação aos afastamentos por doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (M00-M99), a carreira de praças e a região litorânea mostrou razão de chances de 143% (OR 2,43 IC95%: 1,38-4,28) e 23% (OR 1,23 IC95%: 1,02-1,48), respectivamente, de se afastar por M00-M99,em comparaçãoà carreira de oficiais e região serrana. Além disso, os policiais militares têm42% menos chances de se afastar por M00-M99, comparados aos bombeiros militares (OR 0,58 IC95%: 0,48-0,70).

Os militares do sexo masculino mostraram razão de chances 79% (OR 1,79 IC95%: 1,34-2,38) maior de se afastarem das atividades por lesões, envenenamentos e algumas outras consequências de causas externas (S00-T98) do que os militares do sexo feminino, e os que trabalham na atividade operacional têm 125% (OR 2,25 IC95%: 1,86-2,72) mais chances de se afastar por S00-T98 do que os que trabalham em atividade administrativa. Em contrapartida, os militares que trabalham na região litorânea têm 20% menos chances de se afastar por S00-T98.

Quanto aos afastamentos por fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os serviços de saúde (Z00-Z99), os policiais militares apresentam 36% (OR 1,36 IC 95%: 1,01-1,83) mais chances, comparados aos bombeiros militares. E os “Outros” fatores associados aos afastamentos mostraram que os militares que trabalham na região litorânea têm 36% mais chances comparados aos que trabalham na região serrana (OR 1,36 IC95%: 1,10-1,66); entretanto, o sexo masculino e a atividade operacional têm 34% (OR 1,34 IC95%: 0,51-0,83) e 46% (OR 1,46 IC 95%: 0,46-0,64), respectivamente, menos chances de se afastar por outras doenças, em comparação ao sexo feminino e à atividade administrativa.

A Tabela 6 apresenta a comparação entre as variáveis sócio-ocupacionais de acordo com grupos de risco ao adoecimento.

Tabela 6

Comparação entre as médias de dias afastado do trabalho e variáveis sócio-ocupacionais de policiais militares e bombeiros militares de Santa Catarina

Variáveis

CÓDIGOS CID-10

M00-M99

F00-F99

S00-T98

Z00-Z99

Outros

Sexo

Masculino

24±4,25

14±3,47

30±4,58*

11±3,14

21±4,10

Feminino

22±4,12

19±3,91

17±3,77

10±3,02

32±4,68†

Carreira

Praças

24± 4,25†

14±3,46

29±4,54

11±3,12

22±4,17

Oficiais

13± 3,36

31±4,64†

22±4,18

13±3,36

21±4,12

Atividade

Operacional

23±4,23

14±3,44

32±4,68†

11±3,14

20±3,97

Administrativo

24±4,25

17±3,74*

16±3,70

11±3,09

33±4,69†

Instituição

Polícia Militar

22±4,14

15±3,56*

29±4,55

11±3,17*

23±4,18

Bombeiros Militares

33±4,69†

11±3,16

27±4,44

9±2,81

21±4,04

Teste t de Students independente: *p<0,05; †p<0,001.

Os resultados do teste t de Students mostraram que os militares do sexo masculino se afastam por um período maior por lesões, envenenamentos e algumas outras consequências de causas externas do que o sexo feminino (p<0,001). Em contrapartida, no sexo feminino, o tempo de afastamento por outros agravos à saúde foi maior comparado ao sexo masculino (p<0,001). Não houve diferença entre os sexos no tempo de afastamento por doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo, transtornos mentais e comportamentais e fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os serviços de saúde (p>0,05) (Tabela 6).

Os militares que atuam como praças se afastam por mais tempo do que os militares na carreira de oficiais por doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (p<0,001). Entretanto, os oficiais se afastam por um período maior por transtornos mentais e comportamentais comparados aos militares praças (p<0,001). Nos outros agravos a saúde, não houve diferença com relação à carreira dos militares (p>0,05) (Tabela 6).

A atividade administrativa dos militares mostrou que o período de afastamento por transtornos mentais, comportamentais e outros é maior quando comparado aos militares que realizam atividade operacional (p<0,05). Para os militares que realizam atividade operacional, o tempo de afastamento por lesões, envenenamentos e algumas outras consequências de causas externas foi maior comparado aos militares que realizam atividade administrativa (p<0,001). O tempo de afastamentos por doenças do sistema osteomuscular, do tecido conjuntivo e fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os serviços de saúde não foram diferentes entre as atividades dos militares (p<0,05) (Tabela 6).

Os bombeiros se afastam por um período maior por doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo em comparaçãoaos policiais militares (p<0,001). Por outro lado, os policiais militares se afastam por períodos mais longos por transtornos mentais, comportamentais e fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os serviços de saúde,comparados aos bombeiros (p<0,05) (Tabela 6).

Discussão

Esta pesquisa apresenta resultados significativos sobre o perfil epidemiológico de policiais militares e bombeiros militares de Santa Catarina afastados do trabalho para tratamento de saúde entre 2014-2016. Além das despesas financeiras ao Estado, em torno de 30 milhões de reais no período estudado, o afastamento dessa classe profissional custa à população o aumento da insegurança e riscos, pois, além da redução do efetivo no emprego das atividades de segurança pública, a sobrecarga dos demais trabalhadores aumenta as chances de adoecimento profissional e as dificuldades paras os gestores, que já sofrem com altas demandas e responsabilidades (Oliveira & Santos, 2010; Bezerra, Minayo,& Constantino, 2013). A média de dias afastados do trabalho dos militares mostra que os policiais se afastam por mais tempo que os bombeiros (Tabela 1). Esta diferença pode estar relacionadaàs ­características da ocupação entre os militares. Policiais militares lidam constantemente com a violência, a brutalidade e agressões, e intervêm em situações de problemas humanos de muito conflito e tensão, aumentando o risco para doenças mentais e comportamentais (Minayo et al., 2011; Silva, Matos, Valdivia, Cascaes,& Barbosa, 2013; Elntib& Armstrong, 2014),enquanto bombeiros atuam em situações trágicas, como incêndios, colisões e salvamentos com ­frequente exigência física, portanto, maior risco de desenvolver doenças osteomusculares ( Lima, Assunção & Barreto, 2015; Pires, Vasconcellos,&Bonfatti, 2017).

Neste estudo, não houve diferença entre os militares do sexo masculino e feminino na média de dias de afastamento (Tabela 1). Destacamos que, apesar da predominância masculina na profissão e maiores chances de traumas externos, gerando maior possibilidade de se afastarem (Schneider, Signorelli,& Pereira, 2017), as mulheres militares tendem a apresentar maior quantidade de sintomas de sofrimento psíquico (Oliveira &Bardagi, 2009; Castro & Cruz, 2015), estresse em relação à organização de trabalho, conflitos interpessoais(Baasch et al., 2017) e sofrem discriminação de gênero e assédio (Bezerraet al., 2013). Portanto, ambos os militares acabam se afastando por motivos diferentes.

Os militares que realizam atividade operacional se afastam por períodos maiores em comparaçãoaos militares que atuam na atividade administrativa (Tabela 1). Estes resultados corroboram com outros estudos que mostraram que militares que atuam fora dos quartéis ficam mais expostos a riscos de acidentes, tensão, exposição frequente à morte, apresentando mais afastamentos por lesões, envenenamentos e algumas outras consequências de causas externas (Ferreira, Bonfim, & Augusto, 2011; Lima, Blank, & Menegon, 2015; Nabeel, Baker, McGrail, & Flottemesch, 2007).

Interessantemente, os oficiais e os praças não diferem na média de dias afastados para tratamento de saúde no período (Tabela 1). Destacamos que, apesar do nível hierárquico entre os oficiais e os praças, ambas as carreiras são submetidas aos mesmos riscos e sobrecargas, como a vigilância e o uso permanente de arma de fogo, aumentando a probabilidade de desenvolver estresse em função dos níveis de responsabilidade ( Lima, Blank, & Menegon; 2015).

Os agravos à saúde mais prevalentes no período de 2014 a 2016, nos militares, foram por S00-T98, com 29,0%; M00-M99, com 23,0%; e outros, 22,0% (Tabela 2). Os estudos têm mostrado resultados conflitantes sobre a prevalência de agravos à saúde em militares. Por exemplo, em um estudo com bombeiros militares do estado do Rio de Janeiro, mostrou-se que as doenças mais prevalentes foram as doenças osteomusculares e do tecido conjuntivo (M00-M99), com 21%; as lesões, envenenamentos e algumas outras consequências de causas externas (S00-T98), com 12,6%; e os transtornos mentais e comportamentais (F00-F99), com 8,9% dos casos, corroborando em parte com o presente estudo (Pires et al., 2017). Em outro estudo, com policiais militares de Pernambuco, as doenças mais frequentes foram o diagnóstico “outros” e os transtornos mentais e comportamentais (Ferreira, Bonfim, & Augusto, 2012). Em uma revisão sistemática para avaliar o risco ocupacional, lesões e doenças em policiais militares, observou-se que as doenças relacionadas aos transtornos mentais e comportamentais (F00-F99) e as doenças osteomusculares e do tecido conjuntivo (M00-M99) foram as mais prevalentes nos militares, no período de 1987 a 2017, corroborando em parte com esta pesquisa (Mona, Chimbari, & Hongoro, 2019). A diferença encontrada, deste estudo com os demais, pode ser explicada pelas características das amostras e de outras variáveis não avaliadas, como a prática de atividade física, doenças hereditárias, distúrbios de sono e abuso de álcool pelos militares.

De acordo com os agravos à saúde, as maiores taxas de incidência ocorreram nas doenças relacionadas aos transtornos mentais e comportamentais (F00-F99), osteomusculares e do tecido conjuntivo (M00-M99) e “outros” (Tabela 3). Inferimos que fatores ­relacionados ao trabalho podem explicar as doenças com maior incidência. Os militares trabalham com elevados níveis de estresse, violência, longas jornadas de trabalho, altas demandas e responsabilidades, repetição e excesso de força, posturas inadequadas, fatores que podem explicar os adoecimentos por doenças mentais e comportamentais e do sistema osteomuscular (Han et al., 2018; Robazzi et al., 2012). Na categoria Outros, diversos fatores podem estar relacionados, dentre eles, os psicossociais no trabalho dos militares, que auxiliam no desenvolvimento de comprometimentos cardiovasculares (enfartes), respiratórios (asma), transtornos imunitários (artrite, reumatoide), gastrointestinais (úlcera, dispepsia), dermatológicos (psoríase, alergias), entre outros ( Lopes, Waeny, & Macedo; 2018).

O sexo masculino e a carreira de praças mostraram menos chances de desenvolver transtornos mentais e comportamentais (F00-F99) em comparaçãoaos militares do sexo feminino e da carreira de oficiais. Contudo, os policiais militares apresentam 40% mais chances de se afastar por transtornos mentais e comportamentais (Tabela 5), comparados aos bombeiros militares. Policiais militares lidam constantemente com a violência, a brutalidade e agressões, e intervêm em situações de problemas humanos de muito conflito e tensão (Minayoet al., 2011; Silvaet al., 2013; Elntib& Armstrong, 2014), enquanto bombeiros atuam em situações trágicas, como incêndios, colisões e salvamentos ( Lima, Assunção & Barreto, 2015; Pireset al., 2017), com frequente exigência física.

Os militares que são praças e trabalham na região litorânea apresentam mais chances de se afastar por doenças osteomusculares e do tecido conjuntivo (M00-M99) e “outras” categorias do que os oficiais e a região serrana (Tabela 5). A região litorânea do estado de Santa Catarina apresenta as cidades mais populosas, consequentemente, em grandes centros urbanos há maiores índices de violência, expondo os militares direta ou indiretamente ao aumento das lesões físicas, acidentes e morte (Gonçalves, Queiroz, & Delgado, 2017; Schmid & Serpa Junior, 2019).

No estudo de Baasch, Trevisan e Cruz (2017), a principal causa de afastamentos de policiais e servidores públicos de Santa Catarina foi por transtornos mentais e comportamentais (F00-F99), resultados diferentes desta pesquisa. Na investigação de Pinto (2010) com servidores públicos militares do Rio Grande do Sul, encontraram-se maiores frequências de afastamentos por lesões, envenenamentos e algumas outras consequências de causas externas (S00-T98) e doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (M00-M99), corroborando com esta pesquisa. Segundo Bravo, Barbosa e Calamita (2016), ao estudarem 285 policiais militares atendidos na Unidade Integrada de Saúde (UIS) da cidade de Marília,evidenciou-seque traumas e problemas ortopédicos são os problemas de saúde que mais levaram os policiais a se afastarem de suas atividades laborais, predominando os traumatismos em serviço ou no quartel [exceto em educação física], traumatismo em folga e problemas ortopédicos (dores) sem relação precisa com traumas prévios.

Com relação aos afastamentos por lesões, envenenamentos e algumas outras consequências de causas externas (S00-T98), os militares do sexo masculino e que trabalham na atividade operacional apresentam 79% e 125% mais chances de se afastarem por estas doenças, respectivamente, comparados aos militares do sexo feminino e da atividade administrativa (Tabela 5). A predominância masculina na profissão e a forte expressão da virilidade, aliada ao alto risco inerente à atividade, expõe os militares do sexo masculino a maiores chances de traumas externos (Schneideret al., 2017). Além disso, com o grande desgaste físico e a baixa aptidão física desses profissionais para suportar a sobrecarga de trabalho diário, ocorre um aumento da taxa de lesões (Silva et al., 2013; Limaet al., 2015; Nabeelet al., 2007; Ferreiraet al., 2011).

Conclusão

A verificação do perfil epidemiológico dos militares com maiores chances de adoecimento em razão do exercício profissional permite reorganizar o processo de trabalho, possibilitando ações e decisões estratégicas voltadas à melhora da saúde e qualidade de vida no trabalho desses profissionais, com repercussões aos serviços prestados à sociedade. Os policiais e bombeiros militares apresentaram alta prevalência e incidência de afastamentos por lesões, envenenamentos e algumas outras consequências de causas externas e por doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo no período de 2014 a 2016. Militares do sexo masculino e que realizam atividade operacional foram associados aos principais agravos à saúde.

As organizações militares de Santa Catarina não têmem seu Quadro de Oficiais da Saúde profissionais com formação voltada à saúde mental dos militares, implicando consideravelmente na manutenção e cronificação do adoecimento de policiais militares e bombeiros militares, conforme apresentado neste trabalho. Assim, formar um Quadro de Saúde multidisciplinar não só aumenta as chances de desenvolvimento de ações estratégicas unificadas para gestão da saúde dos militares como impacta diretamente os serviços prestados à população.

Referências

Baasch, D., Trevisan, R. L., & Cruz, R. M. (2017). Perfil epidemiológico dos servidores públicos catarinenses afastados do trabalho por transtornos mentais de 2010 a 2013. Ciência & Saúde Coletiva, 22(5), 1641-1650. doi:https://dx.doi.org/10.1590/1413-81232017225.10562015

Bezerra, C. D. M., Minayo, M. C. d. S., & Constantino, P. (2013). Estresse ocupacional em mulheres policiais. Ciência & Saúde Coletiva, 18, 657-666. Recuperado dehttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232013000300011&nrm=iso

Brasil. (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal.

Bravo, D.S., Barbosa, P.M.K.,& Calamita, Z. (2016). Absenteísmo e envelhecimento no contexto ocupacional do Policial Militar. Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, 14(2), 134-142. Recuperado dedoi:http://www.rbmt.org.br/how-to-cite/42/pt-BR

Castro, M. C. A., & Cruz, R. M. (2015). Prevalência de transtornos mentais e percepção de suporte familiar em policiais civis. Psicologia: Ciência e Profissão, 35(2), 271-289.doi:https://dx.doi.org/10.1590/1982-370300702013>.

Elntib, S., & Armstrong, T. (2014). Critical incidents’ impact on front-line South African police personnel in light of the current briefing and debriefing strategies. South African Journal of Psychology, 44(4), 416-425. doi:https://doi.org/10.1177/0081246314529272

Ferreira, D. K. S., Bonfim, C., & Augusto, L. G. S. (2012). Condições de trabalho e morbidade referida de policiais militares, Recife-PE, Brasil. Saúde e Sociedade, 21, 989-1000. Recuperado dehttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902012000400016&nrm=iso

Ferreira, D. K., Bonfim, C., & Augusto, L. G. (2011). Factors associated with the lifestyle of military police officers. Cien Saude Colet, 16(8), 3403-3412. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/csc/v16n8/a07v16n8.pdf

Gonçalves, H. C. B., Queiroz, M. R., Delgado, P. G. G.(2017) Violência urbana e saúde mental: Desafios de uma nova agenda? Fractal Revista de Psicologia, 29(1), 17-23. doi:https://doi.org/10.22409/1984-0292/v29i1/1256

Han, M., Park, S., Park, J. H., Hwang, S.-S., & Kim, I. (2018). Do police officers and firefighters have a higher risk of disease than other public officers? A 13-year nationwide cohort study in South Korea. BMJ Open, 8(1), 1-7 doi:10.1136/bmjopen-2017-019987. Recuperado de https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5878257/

Iacoponi, E. (1999). Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10 - Diretrizes diagnósticas e de tratamento para transtornos mentais em cuidados primários. Revista Brasileira de Psiquiatria, 21(2), 132. doi:https://dx.doi.org/10.1590/S1516-44461999000200014

Kim, Y., Ahn, Y., Kim, K.,Yoon, J., Roh, J. (2016). Association between job stress and occupational injuries among Korean firefighters: A nationwide cross-sectional study. BMJ Open, 6(11), e012002. doi:https://dx.doi.org/10.1136/bmjopen-2016-012002

Lima, E.D.P., Assunção, A.A., &Barreto, S.M. (2015). Prevalência de depressão em bombeiros. Caderno de Saúde Pública, 31(4), 733-743. doi:http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00053414.

Lima, F. P., Blank, V. L. G., & Menegon, F. A. (2015). Prevalência de transtorno mental e comportamental em policias militares/SC, em licença para tratamento de saúde. Psicologia: Ciência e Profissão, 35, 824-840. Recuperado dehttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932015000300824&nrm=iso

Lipp, M.E.N., Costa, K.R.D.S.N., Nunes, V.D.O.(2017). Estresse, qualidade de vida e estressores ocupacionais de policiais: Sintomas mais frequentes. Revista Psicologia Organizações e Trabalho,17(1), 46-53. doi:https://dx.doi.org/10.17652/rpot/2017.1.12490

Lopes, K., Waeny, M. F. C., & Macedo, C. M. V. (2018). Riscos psicossociais no trabalho de policiais militares que podem levar ao estresse. Revista Ibirapuera(15), 51-60. Recuperado dehttp://seer.unib.br/index.php/rev/article/view/139/149

Magajewski, T. (2010). Avaliação da síndrome de burnout em policiais civis do município de Tubarão (SC). Revista Brasileira de Medicina do Trabalho,8(2), 77-81. Recuperado dehttp://www.rbmt.org.br/how-to-cite/104/pt-BR

Minayo, M. C., Assis, S. G., & Oliveira, R. V. (2011). The impact of professional activities on the physical and mental health of the civil and military police of Rio de Janeiro (RJ, Brazil). Ciência e Saúde Coletiva, 16(4), 2199-2209. Recuperado dehttp://www.scielo.br/pdf/csc/v16n4/v16n4a19.pdf

Mona, G. G., Chimbari, M. J., & Hongoro, C. (2019). A systematic review on occupational hazards, injuries and diseases among police officers worldwide: Policy implications for the South African Police Service. Journal of Occupational Medicine and Toxicology, 14(2),1-15. doi:https://dx.doi.org/10.1186/s12995-018-0221-x

Nabeel, I., Baker, B. A., McGrail, M. P., Jr., & Flottemesch, T. J. (2007). Correlation between physical activity, fitness, and musculoskeletal injuries in police officers. Minnesota Medicine, 90(9), 40-43.Recuperado dehttps://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17966263

Oliveira, K. L., & Santos, L. M. d. (2010). Percepção da saúde mental em policiais militares da força tática e de rua. Sociologias, 12, 224-250. Recuperado dehttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-45222010000300009&nrm=iso

Oliveira, P. L. M., & Bardagi, M. P. (2009). Estresse e comprometimento com a carreira em policiais militares. [Stress and career commitment of military officers]. Boletim de Psicologia, 59(131), 153-166. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0006-59432009000200003&lng=pt&nrm=iso

Pinto, J.N., (2010). Absenteísmo por doença na Brigada Militar de Porto Alegre, RS. (Trabalho de Conclusão de Curso, Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Brasil). Recuperado dehttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/28221

Pires, L. A. A., Vasconcellos, L. C. F. & Bonfatti, R. J. (2017). Bombeiros militares do Rio de Janeiro: Uma análise dos impactos das suas atividades de trabalho sobre sua saúde. Saúde em Debate, 41, 577-590. Recuperado dehttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-11042017000200577&nrm=iso

Robazzi, M. L. C., Mauro, M. Y. C., Secco, I. A. O., Dalri, R. C. d. M. B., Freitas, F. C. T., Terra, F. S., & Silveira, R. C. P. (2012). Health changes from overwork among health sector workers. Revista de Enfermagem , 20(4), 526-532. Recuperado dehttp://www.facenf.uerj.br/v20n4/v20n4a19.pdf

Schmid, P.C., & Serpa, O.D.(2019). Violência urbana e saúde mental: por narrativas em primeira pessoa. Physis: Revista de Saúde Coletiva, 29(3), 1-18. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0103-73312019290313>.

Schneider, D., Signorelli, M. C., & Pereira, P. P. G. (2017). Mulheres da segurança pública do litoral do Paraná, Brasil: Intersecções entre gênero, trabalho, violência(s) e saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 22, 3003-3011. Retrieved from http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232017002903003&nrm=iso

Silva, R., Matos, C., Valdivia, B., Cascaes, F., & Barbosa, P. (2013). Revisión sistemática acerca de la actividad física y de la salud de policías. Revista MED, 21, 75-85. Recuperado dehttp://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0121-52562013000100008&nrm=iso

Velden, P.G., Rademaker, A.R., Vermetten, E., Portengen, M.A., Yzermans, J.C., & Grievink, L. (2013). Police officers: A high-risk group for the development of mental health disturbances? A cohort study. BMJ Journals., 3(1), 1-9. Recuperado dehttps://bmjopen.bmj.com/content/3/1/e001720

Wickramasinghe, N.D., Wijesinghe, P.R., Dharmaratne, S.D., &Agampodi, S.B. (2016). The prevalence and associated factors of depression in policing: A cross sectional study in Sri Lanka. SpringerPlus, 5(1), 1776. doi:https://dx.doi.org/10.1186/s40064-016-3474-9

Recebido em: 12/03/2020

Última revisão: 20/05/2020

Aceite final: 04/07/2020

Sobre os autores:

Gustavo Klauberg Pereira: Mestre em Psicologia, Universidade Federal de Santa Catarina. Psicólogo da Polícia Militar de Santa Catarina. E-mail:gkpgustavo@gmail.com, Orcid: http://orcid.org/0000-0003-4097-0020

RicelliEndrigoRuppel da Rocha: Pós-doutorando do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina. Professor na Universidade do Oeste de Santa Catarina.­ E-mail: ricelliendrigo@yahoo.com.br, Orcid: http://orcid.org/0000-0002-4277-1407

Roberto Moares Cruz: Pós-Doutorado em Método e Diagnóstico, Universidade Federal de Santa Catarina. Professor titular do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail:robertocruzdr@gmail.com, Orcid: http://orcid.org/0000-0003-4671-3498


1 Endereço de contato: Gustavo Klauberg Pereira. Av. Gov. Ivo Silveira, 3710-3936 - Capoeiras, Florianópolis, SC, 88085-002 – Complemento – Diretoria de Saúde e Promoção Social da Polícia Militar de Santa Catarina. Telefone: (048) 3665-8470. E-mail: gkpgustavo@gmail.com

doi: http://dx.doi.org/10.20435/pssa. v13i4.1266